Ainda vinte e nove...
Quase em frente a portinha dos
trinta anos, eu me pergunto o tempo todo, “Você está preparada Bárbara? ”, a vida
real não é como a da Bridget Jones que tudo vai se encaixando e dando certo. Na
verdade, a vida está bem longe de ser um roteiro daqueles de filme que eu amo
assistir repetidamente.
Quantas foram as minhas
conquistas e minhas derrotas?
Eu estou aonde realmente planejei
estar com essa idade?
Já peço desculpas desde aqui, mas
vou me perder escrevendo e me explicando, porque a verdade é que para chegar
até aqui me perdi milhares de vezes e em muitas delas decidi não me encontrar
mais.
Aos quinze anos eu sonhava em
chegar aos dezoito e poder “fazer tudo o que eu quisesse”. Mas quem faz tudo o
que quer aos dezoito morando com os pais e com uma mãe um pouco (leia-se MUITO)
rígida?
Aos dezoito anos eu sentia que
era invencível e que podia fazer tudo, o que muitas vezes me levou a decepções
e péssimas escolhas. Conheci o meu pior e o meu melhor. Fiz amizades que ainda hoje
estão em minha vida, e fazem sempre acreditar que existem sim amizades
verdadeiras.
Meu plano de vida era terminar a
escola, fazer uma faculdade (que eu não fazia ideia qual), me casar e ter filhos.
Para você que ainda está lendo apenas lhe garanto eu mudei todo o caminho, os
planos e os sonhos já não são mais os mesmos.
Aos vinte um eu achava incrível
passar a madrugada “por aí” e ver o sol nascer, chegar em casa cansada, tomar
banho, dormir por duas horinhas e ir trabalhar e tudo outra vez e outra e outra.
Achava o cartão de crédito e o José Cuervo os meus melhores amigos. Acreditava
que a faculdade era algo para depois, achava que ainda tinha a vida pela
frente. E eu tinha, e ainda tenho, mas eu não sabia disso naquela época. Descobri
meu amor pela Carrie Bradshaw e sonhava em ser como ela.
Aos vinte e quatro, pela primeira
vez eu desejei morrer! Eu segurei minha mãe em meus braços pela ultima vez, eu
senti o que seria seu ultimo suspiro, eu senti seu coração parar de bater. E
pela primeira vez eu me senti perdida, senti meu coração partir ao meio. Eu
aquela que por um bom tempo sabia que coração não amava, que essa coisa de amor
era tudo coisa criada pela nossa cabeça, eu que era a razão e nunca a emoção,
eu que nunca tinha chorado em público (sóbria), eu que há um ano atrás pela
primeira vez perdi alguém importante para mim (minha avó), agora perdia minha
alma gêmea, minha bipolar favorita dessa Terra. Perdia uma mãe, uma amiga,
conselheira e a pessoa que acreditava mais em mim do que eu mesma. Achei que
nunca iria me recuperar (e hoje aos quase trinta sei que não vou, mas aprendi a
respirar fundo, aprendi a sorrir novamente e acima de tudo acreditar em mim e
me amar como ela fazia). Nesse momento dei valor a tudo que minha mãe falava
sobre a única herança que ela deixaria para mim seria meus irmãos. E a partir
desse dia eu agradeci a Deus por todos os abraços obrigados que ela fazia um
dar no outro depois de uma briga. Agradeci por ela sempre dizer que nós éramos
tudo o que o outro teria sempre. Também não posso deixar de lembrar das amigas
incríveis que não soltaram minha mão nem por um momento.
Um mês após todo desabar do meu
mundo, fiz vinte e cinco, tirei meu passaporte e juntei dinheiro que julgava
ser suficiente para poder dizer tchau e recomeçar uma vida onde eu achava que
eu seria feliz de novo. E ao mesmo tempo que construí novos sonhos e planos
recebi uma noticia que eu mal sabia que seria a coisa mais magnifica da minha
existência nesse mundo insano. Eu seria tia, eu que não gostava de crianças, eu
que era aquela que encarava as criancinhas só para ver quem olhava mais tempo
sem piscar, eu que mostrava a língua para as crianças choronas no ônibus.
Confesso que não foi a melhor noticia na hora que eu a recebi, confesso que ainda
assim juntei um pouco mais de dinheiro para a minha viagem de descoberta,
confesso que não falava com a barriga da minha irmã, confesso que não fui
amável e doce, mas no meio de tudo isso eu sabia que ela precisaria de mim,
sabia que ela não faria o mesmo por mim, mas sei que a minha mãe desejaria que eu
ficasse. Eu fiquei! E no mesmo dia fui para o shopping gastar o dinheiro que eu
havia juntado. Guardei o passaporte na gaveta embaixo de todas as roupas. Me
inscrevi na faculdade. Escolhi qualquer curso, porque aos vinte e cinco eu
ainda não tinha ideia do que eu realmente queria ser, apenas queria ser alguém
que pudesse ser um bom exemplo e que fizesse jus a tudo que minha mãe fez por
nós. Escolhi uma graduação tecnológica, aquela de dois anos de duração. Fui me
descobrindo aos poucos, meu amor por aprender, por fazer algo novo, sozinha e
por mim mesma. Percebi que meus irmãos tinham orgulho da pessoa que eu era a
cada final de dia. E nos dias que eu queria apenas sumir eu sobrevivia por eles
e por uma coisa maravilhosa chamada Arthur, que me chamava de Babá e sorria sem
nenhum dentinho na boca quando eu chegava.
Aos vinte e seis sai do meu
emprego depois de sete anos de trabalho. Eu permiti me conhecer na vida, no
trabalho, sozinha e me amar da maneira que eu era quando me olhava. Foi algo
difícil dentro de mim. Aceitar as mudanças e fazer com que as pessoas me vissem
e me respeitassem da maneira que eu era e merecia. Fiz uma lista de sonhos e
comecei e correr atrás para que eles se realizassem. Chorei mil vezes ouvindo
“Someone Like You”. Assisti ao filme “Um Dia” tantas vezes que eu nem odeio
mais o Dexter. Fui a shows, festivais, sessões
de cinema alternativo tudo sozinha. Tinha me cansado daquele “se você for eu
vou”, e comecei o meu “eu quero, eu vou”.
Aos quase vinte e oito eu voltei
para o mesmo emprego do qual eu havia saído, mas eu me conheci
profissionalmente de uma forma que eu jamais teria a oportunidade se eu nunca
tivesse saído. Terminei a faculdade. Fiz um TCC maravilhoso sobre o “Empreendedorismo
Feminino”. Tive uma nova experiencia de emprego nesse tempo. Fiz um curso
incrível da Dale Carnegie. Me tornei um ser humano melhor. Aprendi a lidar com
o meu stress. Aprendi aceitar opiniões diferentes da minha. E amei o feminismo
de uma forma que não tem definição.
Encontrei algumas novas pessoas
incríveis com historias tão inspiradoras que eu sinto a vontade de contar ao
mundo.
Continuei riscando shows da minha
lista infinita de “shows para assistir antes de morrer”, tive aquelas férias
inesquecível com as minhas amigas em Buenos Aires, algo que eu planejava há uns
três anos e que nunca saia do papel.
Troquei as baladas por maratonas
na Netflix. Troquei a tequila por qualquer coisa não alcoólica.
Aos vinte e nove, me senti tão sem importância
diversas vezes diante do mundo, diante das coisas horríveis que eu lia
diariamente sobre o mundo, sobre as coisas ridículas da politica do meu país,
sobre o assassinato de mulheres todos os dias por motivos tão banais. Comecei a
questionar minha existência nesse mundo. Será que é a crise dos trinta? Eu
ainda não tenho uma casa só minha. Eu não quero dirigir. Eu quero um closet e
um escritório. Alguém me entende?
Parei de ter vergonha de dizer
que não quero me casar, parei de ter medo dos olhares julgadores quando eu digo
que eu não quero ter filhos. Acho admirável duas pessoas dizerem sim num altar
ou onde quer que seja, mas eu não tenho esse sonho. Acho que ter um bebe
crescendo dentro de você deve ser a coisa mais extraordinária que uma mulher
pode sentir, mas eu não quero. Eu não quero um bebe dentro de mim. E se um dia
a maternidade fizer parte do meu plano ou se eu precisar me realizar com ela,
eu adoto uma criança. Simples assim. Eu
sei que seria uma boa mãe, pois me esforço para ser sempre boa em todas as
coisas que eu faço, mas, emprego você pede a conta quando não te agrada,
faculdade você muda de curso, namoro você termina, mãe é algo que é para sempre
você amando ou não o fato de ser uma. Eu tive uma que amava a profissão mãe e
que fazia tudo com tanta devoção e amor que eu sei que jamais seria nem metade
do que essa mulher foi para mim. Admiro depois de um dia de trabalho cansativo
minha irmã chegar em casa e ainda fazer lição com um garotinho de cinco anos
que está na fase de alfabetização e ela precisa ter calma e paciência mesmo
depois de ter atendido diversos pacientes num dia exaustivo de trabalho.
Admiro as mulheres que tem
carreira e uma família e conseguem levar as duas coisas. Admiro mais ainda
aquelas que sozinhas cuidam de filho e de si mesmas.
Aos vinte nove e onze meses, me
questiono se estou vivendo da melhor maneira que eu posso? Correndo do amor,
com medo que tudo de errado como sempre. Ou com medo de dar tão certo que eu
vou achar que estou vivendo um filme.
Eu parei de planejar, parei de
fazer planos e planos e achar que posso escolher a hora certa para amar, ou
quem amar. Tudo acontece na hora exata, acredito eu. Todos temos um amor por aí
para viver. Talvez até já o vivemos e nem demos conta. Eu ouvi “Lay me Down”
até parar de chorar e compreender que amores assim só existem em músicas,
filmes e livros. Ok! Eu ainda choro as vezes ouvindo ela, dói meu coração.
Comecei a acreditar em amizades
eternas. Amores eternos não são necessariamente aquele tipo de amor que
sentimos por uma pessoa, mas também por um amigo, que muitas vezes são mais
nossas almas gêmeas do que qualquer outro alguém. O magnifico em se tornar
adulto é que você se torna menos dependentes dos seus amigos, mas nunca deixam
de estar próximos mesmo não se vendo mais todos os dias ou mandando mensagens o
dia todo. Simplesmente você sabe que a pessoas estará ali e ponto, sem nada em
troca.
Acredito que o mais importante
que eu consegui extrair desses anos vividos é que se eu não me amar ninguém
fará por mim. Se eu não me entender, me respeitar e acreditar nas minhas
escolhas, ninguém irá fazer por mim.
Ame-se para que outra pessoa
possa conhecer você por inteiro.
Eu parei de planejar e comecei a
viver a minha vida e não a vida dos meus sonhos.
Que os trinta traga maturidade¹ porque eu preciso tanto disso!
Enfim, trinta!
Agora faltando um mês para o apagar de velas tão esperado desde o momento que apagamos as velinhas dos vinte e nove e nesse tempo que passou aprendi que para sermos felizes aos trinta e um temos que esquecer as neuras e paranoias que vivemos em nossos pensamentos e em nosso dia-a-dia aos trinta. E que você seja você mesma, simples assim.
¹maturidade
substantivo feminino
1.
1. estado, condição (de estrutura, forma, função ou organismo) num estágio
adulto; condição de plenitude em arte, saber ou habilidade adquirida. "m. intelectual"
2.
2. termo último de desenvolvimento. "m. das ciências"
E vocês estão preparadas para os trinta?? Espero que tenham gostado de conhecer a minha verdade contada nessas linhas.
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O teu texto está maravilhoso!
ResponderExcluirIncrível como estes pensamentos surgem sempre na altura em que ficamos mais velhos. Gostei do contraste da pessoa que eras quando tinhas 15/18 anos para agora. Ficou muito bem explicado!
Não te sintas culpada por não quereres casar ou ter filhos aos 29 anos. És como és :) Eu tenho 22, quase 23, e ainda nem a carta de condução tirei!
Continua a escrever assim!!
Esse texte foi tão maravilhoso que nem sei por onde começar...
ResponderExcluirEsse ano eu fiz 25, e entrei numa crise e onde de questionamentos, me sentindo A looser. Dai eu fiz mais ou menos isso que você fez, comecei a escrever sobre esse assunto, escrever o que me incomodava, o que eu tinha orgulho... foi aí que percebi que cada pessoa tem a sua trajetória, o seu tempo e não tem como todo mundo seguir o mesmo padrão 'escola-faculdade-emprego-casar-filhos'. O importante é procurar sempre evoluir como pessoa, e se importar menos com as opiniões alheias.
Aliás, você com 29 anos tem uma evolução e tanto!
Bjs!
www.negavaidosa.com.br
Que texto maravilhoso... ótima reflexão sobre a vida... simplesmente amei!
ResponderExcluirEu nunca odiei Dexter, acredita? E não amo o filme, prefiro o livro. Achei muito fofo que você fez uma retrospectiva dos últimos anos pensando em altos e baixos, porque é isso que é a vida: erros e acertos, decisões e cantar Someone like you aos prantos no quarto, hahaha. Amei as suas conclusões dos 29 anos e desejo que a sua virada de década seja incrível, porque você merece!
ResponderExcluirblogdeclara.com
Que reflexão maravilhosa, você se expressa tão bem nas palavras. Obrigada por essa viagem aos 29, por mais que eu esteja nos 20 ainda (o tempo passa tão rapido) Muito legal seu post!
ResponderExcluirBeijos.
São muitos os desafios da vida lendo toda sua trajetória me fez pensar na mas com dez anos a mais, nem acredito que já estou chegando nos 40 não me sinto tão senhora quanto deveria.😘
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